sexta-feira, 11 de março de 2011

CRÔNICA URBANA #1: LIXO CARNAVALESCO OU ARTE PÚBLICA?

Fazendo caminhos em Guaratinguetá, especificamente em Pedregulho, o outro lado do Rio Paraíba do Sul, deparei-me com enormes esculturas de isopor, fantasias e carros alegóricos bem enfeitados. Restos do carnaval local?
Fiquei pensando o que podíamos fazer com todas aquelas obras de arte que estavam ali expostas ao ar livre para todo mundo que passasse. Não precisávamos pagar nada para admirá-las. Podíamos fotografar a vontade, até tocar. Uma galeria a céu aberto, que iluminado pelo sol compunhava o cenário em deslumbres. Duas meninas, que passavam por ali, tiram fotos juntas dos carros na ânsia de guardarem uma lembrança do Carnaval de 2011.
Onde estavam os artistas para receberem os aplausos? Em suas casas? Trabalhando por aí? Gostaria de conhecê-los com toda a dignidade. Dialogar, conhecê-los, propor novos projetos de trabalho. Alimentá-los de esperança. Os artistas de carnaval podem se manter vivos pós-carnaval. Só precisam de incentivos reais e concretos. Deixo uma ótima ideia de projeto de incentivo público: deveríamos em todo final de carnaval deixar as esculturas em exposição à céu aberto intencionalmente como prova de que o povo é criativo e tem os seus artistas natos. As obras de arte que estava observando estavam ali por um acaso. Provavelmente não houve tempo hábil para serem transportadas para os barracões das escolas.  Os artistas das comunidades carnavalescas costumam ficar no ostracismo e no anonimato. Grandes artistas que ficam escondidos. Com vontade política podemos modificar esta realidade. Santos  Vereadores, olhai por nós!
Enquanto isso, eu, encantado, estava ali... Fotografava tudo como um jornalista iniciante que se encanta com a primeira matéria.  Vários clicks de uma câmera celular de três megapixels.  Baixa resolução, mas bastante funcional. Um caminhante inato da orla, creio eu, que passava por ali, teve a mesma sensibilidade que a minha, e fez o seguinte comentário elogioso: ____Bonito à beça!  Concordei e continuei fotografando em ângulos diversos. Pensei com os meus botões, como isso pode ser considerado lixo, meu Deus. Daqui a pouco quando a prefeitura desarrumar tudo (a passarela do samba), essas belas esculturas correm o risco de virar cinzas. Esse é o preço que pagamos de não ter uma cultura de valorização artística e patrimonial. Essas esculturas de isopor, senhoras e senhores, são patrimônios populares e deveriam ficar guardadas em espaços culturais, escolas, projetos sociais, dentre outros lugares que possam oferecer a reconstrução dessa história que de alguma forma estão bem aqui, na frente dos meus olhos.
Até breve!
Rudolf Rotchild

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