sexta-feira, 1 de abril de 2011

CRÔNICA URBANA #3: ROBSON E A SUA DESERTA ILHA


Caminhando costumeiramente para chegar no meu local de trabalho, vi na calçada da E.E Conselheiro Rodrigues Alves, o conhecido Instituto, um jovem caído no chão. Por alguns segundos observei-o com compaixão e escrevi esta crônica:

Acordei no chão da calçada como se eu fosse um barco naufragado. Todos os meus amigos estão mortos-vivos, compulsivos em pedras sem brilho que são fumadas em cachimbos feitas de lata. Nunca vi algo tão horroroso e destrutivo. O sol escaldante batia em minhas costas. Olhei ao meu redor e não vi ninguém conhecido, estaria numa ilha deserta?
Estava sujo, com sede e fome, sentindo-me abandonado. Tornei-me invisível. Falava com as pessoas, mas ninguém me respondia, ninguém me dava atenção. O medo começou a me tomar conta.
Aquela pedra sem brilho algum... recordava-me que a tinha tocado com os lábios. Pura lascívia do diabo. Isso tudo para tentar ter coragem para chegar numa mina que há muito tempo eu olhava na escola. A biga de cigarro que observava no canto do paralelepípedo me convidava para uma fumada. Distrairia a minha fome por um tempo que parecia não passar. Horas, minutos, segundos não tinham mais sentido.
Mesmo sentindo muito frio tratei de arrumar um canto qualquer para dormir. Debaixo da ponte onde o rio passava estreito. Natália cadê você? O sono demorou a chegar.
Noutro dia ainda com muita fome tentei encontrar os caras que tinham me apresentado à pedra sem valor e sem brilho algum. No lugar onde eles estavam só encontrei um cachorro velho, uma gata manca e diversas balas estragadas que não serviam para nada. Nem para por em cima da linha do trem para serem estouradas.
Existe um lugar que os invisíveis frequentam e não incomodam, fazem até um favor para a sociedade. Estou falando do Mercado Municipal. Lá tem umas frutas e legumes que ficam pelo pátio à vontade. Quanto mais a gente cata, menos sujeira fica.
"Meu futuro não parecia tão bom... Na verdade prometia ser triste, com poucas esperanças de salvação." – Estava escrito num pedaço de papel de açougue sujo de sangue de carne. Será que tinha mais alguém nessa ilha? O maluco que escreveu isso, falava exatamente como eu estava me sentindo.
Apesar da fome ter passado por hora, desanimado chorei muito, mas nenhuma lágrima saia dos meus olhos. Estaria desidratado? Seco por dentro? Subitamente senti uma raiva de Deus: Foda-se o pai eterno. Por que ele me abandonou? Por que ele deixou que esta tragédia abatesse sob a minha vida? Eu não consigo entender. A única coisa que eu pensava era em fumar aquela pedra de novo para suportar a dor de não tê-la por perto. (...)
As alucinações tomavam conta de mim, o rio tinha se transformado em uma grande cobra amarela, todos aqueles que tentavam me ver ficavam cegos como se eu tivesse cabelos paralisantes como medusa. Arrebatamento? Não, eu não quero morrer aqui no meio da rua, sozinho. Eu não quero morrer. Não, eu não quero...(...) Outra noite se aproximava, mas muito mais assustadora. A solidão tomava conta do meu ser, de todo o meu ser. Quem eu podia recorrer?
Um pássaro branco parecido com uma pomba pousou em meus ombros como quem pousa nos ombros de uma estátua da Praça Conselheiro Rodrigues Alves. Seria a paz? A presença da paz? Olhei para o lado e vi a minha família se aproximando, por um instante achei que estivesse sofrendo novamente aquelas desastrosas alucinações. (...)
Eu não acreditava no que estava acontecendo. Depois de algumas péssimas horas nessa deserta ilha, a minha família guiada pelos ventos da Mãe Natureza conseguia me resgatar.
Esperança...

Rudhi Roth

CRÔNICA URBANA #2: PUNIÇÃO E RECOMPENSA


Caminhando pelas ruas de Guaratinguetá, adentrei-me no Grupo Espírita Amor e Luz, instituição religiosa de tradição na cidade. Pude receber o acolhimento dos seus membros. Toda terça-feira de 15hs às 16hs acontece uma reunião, onde se estuda o evangelho do Cristo segundo o Espiritismo, seguido de orações e passes. Benfazejo! É como você sai de lá. Nesta semana a reflexão foi sobre um tema que se parece com uma moeda de duas faces: punição e recompensa. Como ainda vibramos nessa crença de culpa e medo. Pare um pouco para pensar, reveja as suas atitudes. Quando erramos costumamos nos punir de forma consciente ou inconsciente. Dificilmente nos responsabilizamos. Para tentar sanar as nossas dívidas buscamos os jogos no intuito de recebermos a recompensa pelo sofrimento vivido.
___Nossa faz tanto tempo que estou nesse sofrimento, merecia uma recompensa?
As nossas esperanças são focadas em algum bicho sonhado ou em seis ou no máximo dez dígitos aleatórios. Acreditamos na sorte e no azar ao mesmo tempo. Nessas horas em que erramos ou em que acertamos por sorte esquecemos-nos da maior força presente no Universo, o AMOR.
Nós não estamos aqui para sofrer, mas também nós não estamos aqui para ser premiado, recompensado sem nenhum movimento proativo. Nada acontece por acaso.
Nós estamos aqui para brilhar através do AMOR. Para isso precisamos aceitar o PRESENTE. Se dou resistência, recebo resistência, se dou medo, recebo medo, se dou dor, recebo dor, se dou amor, recebo amor.
Escolhemos sermos felizes, afinal "gente é pra brilhar e não para morrer de fome".
Rudhi Roth

terça-feira, 22 de março de 2011

EU SOU O SEU GUIA NA CAMINHADA URBANA

Se você é um daqueles que gosta de praticar caminhada urbana (urban hiking) aliado ao turismo urbano e histórico-patrimonial, eu sou o seu guia. Você caminhará pela sua cidade e ao mesmo tempo conhecerá a sua história e o seu patrimônio urbano.
Em Guaratinguetá, uma cidade feita de ruas, caminhos sinuosos, cheio de ladeiras, de altos e baixos com casarios antigos e relevantes para a história da urbanidade no Brasil, dentre vários caminhos poderemos fazer, por exemplo: o caminho de pedregulho e o caminho de Santa Clara.

sexta-feira, 11 de março de 2011

CRÔNICA URBANA #1: LIXO CARNAVALESCO OU ARTE PÚBLICA?

Fazendo caminhos em Guaratinguetá, especificamente em Pedregulho, o outro lado do Rio Paraíba do Sul, deparei-me com enormes esculturas de isopor, fantasias e carros alegóricos bem enfeitados. Restos do carnaval local?
Fiquei pensando o que podíamos fazer com todas aquelas obras de arte que estavam ali expostas ao ar livre para todo mundo que passasse. Não precisávamos pagar nada para admirá-las. Podíamos fotografar a vontade, até tocar. Uma galeria a céu aberto, que iluminado pelo sol compunhava o cenário em deslumbres. Duas meninas, que passavam por ali, tiram fotos juntas dos carros na ânsia de guardarem uma lembrança do Carnaval de 2011.
Onde estavam os artistas para receberem os aplausos? Em suas casas? Trabalhando por aí? Gostaria de conhecê-los com toda a dignidade. Dialogar, conhecê-los, propor novos projetos de trabalho. Alimentá-los de esperança. Os artistas de carnaval podem se manter vivos pós-carnaval. Só precisam de incentivos reais e concretos. Deixo uma ótima ideia de projeto de incentivo público: deveríamos em todo final de carnaval deixar as esculturas em exposição à céu aberto intencionalmente como prova de que o povo é criativo e tem os seus artistas natos. As obras de arte que estava observando estavam ali por um acaso. Provavelmente não houve tempo hábil para serem transportadas para os barracões das escolas.  Os artistas das comunidades carnavalescas costumam ficar no ostracismo e no anonimato. Grandes artistas que ficam escondidos. Com vontade política podemos modificar esta realidade. Santos  Vereadores, olhai por nós!
Enquanto isso, eu, encantado, estava ali... Fotografava tudo como um jornalista iniciante que se encanta com a primeira matéria.  Vários clicks de uma câmera celular de três megapixels.  Baixa resolução, mas bastante funcional. Um caminhante inato da orla, creio eu, que passava por ali, teve a mesma sensibilidade que a minha, e fez o seguinte comentário elogioso: ____Bonito à beça!  Concordei e continuei fotografando em ângulos diversos. Pensei com os meus botões, como isso pode ser considerado lixo, meu Deus. Daqui a pouco quando a prefeitura desarrumar tudo (a passarela do samba), essas belas esculturas correm o risco de virar cinzas. Esse é o preço que pagamos de não ter uma cultura de valorização artística e patrimonial. Essas esculturas de isopor, senhoras e senhores, são patrimônios populares e deveriam ficar guardadas em espaços culturais, escolas, projetos sociais, dentre outros lugares que possam oferecer a reconstrução dessa história que de alguma forma estão bem aqui, na frente dos meus olhos.
Até breve!
Rudolf Rotchild

CAMINHADA URBANA: MAIS COMUM DO QUE IMAGINAMOS

Urban Hiking, a caminhada urbana, é mais comum do que a gente imagina. Em tempos remotos, os nossos antepassados costumavam chamar esta caminhada urbana  de “dar uma passeada”, “olhar as vitrines”, “vê as modas na rua”. Recordo-me que a minha vó costumava me chamar para andar pelo centro da cidade de Campos dos Goytacazes. Olhar o movimento. Eu adorava. Cresci praticando a caminhada urbana sem saber.  Várias vezes, imerso em obsessões e perturbações mentais, eu gostava de andar pela cidade, para “espairecer as idéias”. Na verdade toda vez que a gente resolve conhecer a cidade, tristes ou alegres,  com os nossos próprios passos, sem carro e com muita disposição, podemos chamar de caminhada urbana. Somos dentro de um contexto urbano, seres que caminham. Somos potencialmente caminhantes urbanos. Com o advento da automóvel fomos nos tornando “preguiçosos”, sedentários. Até pra ir a uma padaria na esquina, ligamos o carro. Em tempos de sustentabilidade ambiental, engarrafamentos, poluição e tudo mais,deveremos repensar as nossas atitudes e começar a colocar no nosso cotidiano a prática do Urban Hiking. Se quiser praticar entre em contato conosco.
Até breve,
Rudolf Rotchild Costa Cavalcante